Dia 07 de fevereiro marca a luta dos povos indígenas pelo direito à terra, por reconhecimento e respeito aos seus saberes tradicionais, por questões ligadas à saúde e à Educação nas aldeias e contra a destruição da natureza.
Para celebrar a data, entrevistamos a nossa ex-aluna Joana Traldi Bomfim, recém formada em Ciências Sociais, na PUC.
Em seu trabalho de conclusão de curso (TCC), “O Xawara e a queda do céu”, a jovem fez um estudo sobre o impacto ambiental e cosmológico do garimpo ilegal na terra indígena Yanomami.
*Nos últimos dias, temos visto diariamente nos veículos de comunicação de massa, reportagens sobre a crise que vive a população Yanomami.
Os Yanomami são um povo indígena que habita a região de fronteira entre o Brasil e a Venezuela, no norte da Floresta Amazônica. Do lado brasileiro, as Terras Indígenas Yanomami ocupam uma área de 9,6 milhões de hectares, entre o estado de Roraima e o estado do Amazonas.
H: Como surgiu o seu interesse pela Antropologia?
J: Desde a faculdade eu sempre me interessei pela Antropologia (*é uma área de estudos das ciências humanas que pretende investigar as origens e as características do ser humano da maneira mais ampla possível). Logo depois surgiu a oportunidade de estagiar em uma ONG que tem os maiores pesquisadores do povo Yanomami.
H: Qual foi o objetivo do seu trabalho?
J: Eu tentei mostrar todas as faces apresentadas do povo Yanomami em relação ao garimpo ilegal que existe por lá. Desde a parte antropológica, de como isso afeta a cultura local, os saberes, o xamanismo do povo, mas também um problema ambiental, como a intoxicação pelo mercúrio, a fome e as doenças.
H: Quando virou uma crise humanitária a situação do povo Yanomami?
J: Os Yanomami sofrem com as invasões desde a década de 50. Nessa época, cerca de 50 mil garimpeiros invadiram a área por conta de uma jazida de ouro, 40% da população morreram, e depois de 10 anos, 50% desses 60% que sobraram morreram também. Foi um estrago muito grande.
H: O seu TCC foi baseado no livro “A queda do céu”, do xamã Yanomami Davi Kopenawa. Conta um pouco do significado dessa expressão.
J: Eles acreditam que no fundo do rio, tem o ouro e quando você tira o ouro do rio, cria-se como se fosse uma fumaça. E é essa fumaça – causada por todo o processo do garimpo – intoxica não só a floresta, mas o povo yanomami e os brancos – os não indígenas.
A queda do céu é como se fosse o apocalipse. Meu trabalho mostra a visão dos Yanomami de que o problema não é só do Brasil. É mundial!
H: Como foi realizar esse trabalho?
J: Eu gostei muito da faculdade durante os 4 anos, mas o TCC foi muito importante para eu entender que realmente eu gostava da área que estava trabalhando e me colocar na posição em que estou, que é o lado mais ambiental da questão.
H: Como você vê daqui para frente a situação do povo Yanomami? Existe uma luz no final do túnel?
J: Eu sou uma pessoa esperançosa. Sempre existiu garimpo, mas é importante que a visão de quem comanda seja parecida à do povo indígena, de proteger a nossa terra. O pensador indígena Ailton Krenak costuma dizer: “eu não posso poluir o rio, o rio é meu avô”. E essa é uma lição que a gente pode ter. Não somos nós versus a natureza. Nós também fazemos parte da natureza. Somos nós com o outro. A filosofia indígena é importante para a preservação dos territórios, porque 53% da floresta amazônica é protegida pelos povos indígenas, simplesmente por estarem nessa ideia de que tudo está conectado.
*A Fundação Nacional dos Povos Indígenas está presidida por Joenia Wapichana, primeira mulher indígena a comandar a Funai.